23.8.17

30 Cartas || Carta para uma pessoa falecida com a qual gostavas de falar



Olá às duas,

Sou eu. Sinto a vossa falta. Hoje fazias anos, avó. Este dia é sempre difícil para mim. Devia ficar feliz porque o teu bisneto também faz anos hoje. Tenho pena que não o tivesses conhecido. Ele hoje faz 3 anos e tu já partiste há 4. Há tanta coisa que gostava de te contar e muitas pessoas que te queria apresentar. Já foste há 4 anos mas para mim, e tenho muita pena de dizer isto, já tinhas partido há mais tempo. Só andavas a sofrer e ver-te sofrer fazia-me triste. Era raro ir ver-te depois de te diagnosticarem o Alzheimer. Tu não sabias quem eu era e eu não te reconhecia. Foste posta de parte, por mim, e eu só gostava de voltar atrás e mudar isto. Estou a chorar e é porque tenho saudades de brincar contigo, apesar de agora já ter 17 anos e não 7, como da última vez.
Estou a escrever esta carta para ti também. Tu então partiste demasiado cedo e eu não me lembro de grande coisa sobre ti. Sei que nós tínhamos mais ou menos a mesma idade e eu gostava de ir a tua casa que, como te deves lembrar, era ao lado da tua. Perder-te foi como perder uma melhor amiga. Aliás, ambas sabíamos que o éramos, só nunca o tínhamos dito uma à outra. A última memória que tenho tua é esta: estávamos a pintar com lápis de cor em tua casa e eu adorava pintar com os teus porque tu tinhas lápis dourado e prateado. Isso para mim era muito fixe! Deixaste-nos demasiado cedo. Tinhas uns 6 anos talvez. Esqueci-me de como eras ou quantos anos tinhas. Foi uma coisa tão repentina, bastou um carro e uma passadeira, e tu deixaste-nos. Foi tão traumático para mim que a única coisa que pude fazer foi esquecer-te. Mas sei o quão importante eras para mim. Gostava de te contar todas as paixonetas que tive ao longo dos anos e ver-te crescer ao meu lado.
Se pudesse mudar as coisas, eu mudava. Partiram as duas demasiado cedo e isso custa-me.

Beijos,
Carina.

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